Análise da intervenção segundo conceitos de Hertzberger
O trabalho realizado relativo à Casa da Glória, em Diamantina, pode ser relacionado a diversos fatores descritos por Herman Hertzberger, em seu livro “Lições da Arquitetura”. A maquete analógica e o projeto digital no SketchUp demonstram um cômodo - sala de estudos – e uma intervenção extremamente funcionais e utilitários. Dessa forma, a análise a partir do livro de Hertzberger será realizada a seguir.
• Forma convidativa.
A forma convidativa consiste em um conjunto de fatores que tornam o ambiente um local não só funcional e útil como também esteticamente satisfatório. Dessa forma, o espaço deve ser, além de confortável, estimulante - como define Hertzberger. Isso pode ser observado na sala de estudos no uso das cores, mobílias, finalidades e disposição dos objetos na sala. Como exemplo, a presença de mesas de design próprio com bases imitando curvas de nível e cadeiras com encostos seguindo o mesmo modelo são um importante componente para estabelecer um apreço estético no espaço dedicado ao IGC no local em questão. Pode-se citar, também, a instalação de uma espécie de moldura em volta do confessionário que dá um aspecto de setorização e, principalmente, exposição de museu. Dessa forma, as pessoas se sentem atraídas a verificar o que está sendo mostrado ali. As cores da sala, majoritariamente branco e azul, remetem a toda a estrutura da Casa da Glória cujo tema é justamente essas cores. Assim, os elementos distribuídos na sala findam promover um conforto (visual, físico, mental) aos que a utilizarão, ao mesmo passo que harmonizar o olhar das pessoas nos ambientes, por meio de cores, objetos e distribuição física pensados detalhadamente para esse fim.
• Urdidura e trama.
Conceitualmente, pode-se relacionar urdidura à estrutura do local. A trama, a qual complementa a urdidura e reciprocamente não existe sem estar atrelada a ela, consiste na utilização das pessoas no ambiente, além do uso próprio já destinado a ele na concepção. Assim, a urdidura da sala de estudos está relacionada à própria composição estrutural da sala (um grande cômodo, com pé direito alto, mezanino com baixíssimo pé direito na parte superior, pilares para sustentação, paredes), além de sua divisão em ambientes claramente setorizados e a trama pode ser evidenciada pela existência de, por exemplo, mesas e cadeiras na área do fundo na qual as pessoas podem usar para estudar, ter aulas, descansar, dentre outras utilidades.
• Polivalência, flexibilidade e funcionalidade.
A arquitetura, no geral, deve existir baseada em três fundamentos: polivalência, flexibilidade e funcionalidade. Na intervenção realizada na Sala de Estudos, pode-se observar a existência de alguns ambiente funcionais, de modo a possuir uma utilidade aos que o frequentarão (por exemplo o espaço da maquete, no qual existem diferentes usos, como transmissão de informações, estudo, apreciação de artigos históricos, dentre outros). É notável, também, a flexibilidade, de forma que o ambiente possibilita a interferência das pessoas na configuração do espaço mas sem que este perca sua identidade (isso pode ser observado no espaço dedicado ao IGC, com mesas, cadeiras, mapas e moveis destinados aos estudantes, os quais não são fixos e possibilitam a reorganização por parte dos utilizadores do local); e, por último, o ambiente deve ser polivalente, ou seja, um mesmo objeto ou espaço pode ser usado de diversas maneiras sem que ele tenha que sofrer mudanças (por exemplo o espaço criado no mezanino, com grandes pufes para acomodação ou apreciação da vista, além de informações a respeito da história da sala).
• Articulação entre o público e o privado.
A Casa da Glória, por ser um museu de grande renome da cidade, possui um cunho social e já conhecido por quem reside ou visita Diamantina. Dessa forma, fica clara a articulação entre o espaço da casa privado (os quartos e a cozinha) e a área dedicada a todos (teatro, exposições museológicas, locais de passagem e de convivência, salas de aula). Na sala de estudos, em si, nota-se essa articulação ainda mais evidenciada. Baseado na intervenção, é notável que a sala possui ambientes tanto dedicados aos turistas quanto aos estudantes. Em um mesmo cômodo, é possível ocorrer aulas, privadas (ou até mesmo abertas ao público), mas também visitações e estudo por parte de pessoas que findam conhecer o local. O modo de acessar o local, inclusive, realizada uma articulação nítida entre os dois âmbitos. O passadiço, famoso ponto turístico da cidade, dá certa privacidade aos que usarão a sala com cunho privado, mas também direciona aqueles que estão ali para visitar.
• Irregularidades.
Dentre as irregularidades presentes na Casa da Glória, encontra-se, na sala de estudos, a existência do mezanino como principal fator. Sua estrutura, composta por laje em dois níveis, pilares e parapeito, foi claramente construída de forma indevida. A laje corta as janelas ao meio, possibilitando uma vista impressionante tanto de baixo quanto de cima do mezanino; os pilares, que antes eram vistos como obstáculos, foram utilizados como pontos de apoio para cartazes informativos a respeito de pontos turísticos de Diamantina, o desnível presente no próprio mezanino foi utilizado como separação de ambientes, além de implementação de sons no espelho do degrau separativo.
• Gradações de demarcações territoriais.
Nota-se, na Casa da Glória, espaços claramente demarcados. O maior exemplo a ser mencionado é a transição entre o passadiço e a sala de estudos. Esta, sempre estava de portas fechadas ou entreabertas, de forma a transmitir, aos visitantes, a ideia de um espaço privado e de não acesso. Entretanto, uma simples e óbvia intervenção foi realizada pelo grupo nesse quesito: a porta fica sempre aberta no projeto. Assim, fica clara a possibilidade de acesso público ao local.
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